terça-feira, 18 de setembro de 2007

gentes de África


A vida dói-me de facto
Cada segundo fere-me
As pestanas caem-me com terror da minha alma
De tanto desejo de sair deste corpo camuflado
De um sorriso contrafeito
De lágrimas fortes mas macias de aparência
Lágrimas, Lágrimas…
Inundem-me o rosto
Lágrimas salgadas
De um veneno que tomo
Vindo de mim
Mas por ti, Vida
Ouvi dizer que é assim que te apelidam
As mãos secam-me
Rasgam-me o corpo
Desta dor de viver
Deste veneno que crio
Que tomo vindo de mim
Mas por ti

E lá estou eu
Repetidamente falando de mim
Eu, eu e mais eu!
Cala-te!
Que és moscardo

Que és tu? Meu eu?
As fracas gentes de África
Decerto terão motivos de sobra para lágrimas
E tu? A tua dor é existir?
A tua dor é seres pó? E depois?
O teu egoísmo enoja-te
Enoja-nos
Nojo é o que és!
Uma lágrima de gentes de África
Certamente que exprimida
Seria ácido
As tuas lágrimas
Dolorosas são!
Mas salgadas perduram
E o ácido mata
O teu sofrimento confrange-te
Mas é pegada humana
O sofrimento de tais gentes famintas
É a pegada do Mundo

A vida dói-me
Mas dói-me muito mais tal veracidade
Cada vez sou mais pó
Perante verdades férteis
Repugnam-me…
Sinto-me enjoada
Com vontade de vomitar meus próprios excrementos
Mas nem assim o nojo é menor

Nem com um tapar de olhos a verdade foge-me
Sinto-a a entrar-me pelos poros
E a dizer-me ao ouvido:
“És ferida com bostela frágil meu caro,
Mas estas gentes são ferida aberta
E o sangue escorre-lhes e não cessa”

Então digo:
Onde está a pistola?
E morro
Com o mijo entre as pernas

1 comentário:

Anónimo disse...

Maravilhoso, Bonito, Profundo e Verdadeiro!