sexta-feira, 21 de setembro de 2007

a chuva chega

A chuva chega
E a melancolia vem
Pela escada mais profunda do coração
Vem devagar, muito solenemente
Com medo da pouca luz
Que irá encontrar…

O cheiro das ruas banhadas
Trazem anseios de lágrimas
De morte, sangue lento
Corujas atentas
Sorrisos puxados
Corvos… corvos…
O tempo comanda-nos um pouco também
Abrem as portas dos nossos segredos
Dos nossos esconderijos de alma
Selam o brilho dos olhos
Tornamo-nos olhos somente
O olhar foge com medo da realidade
E do frio Inverno
Rotinas, percursos repetidos…

Abrigamo-nos em casa
Porque a chuva só nos apraz um pouco
Em casa no nosso silêncio
Com o calor da beleza que é o fogo
Olho-o… como é belo
Então ai o pensamento rola e rola…
A metáfora surge no fogo
Fazendo imagens e brincadeiras
Elevo-me para junto
De estrelas e crianças famintas
A apóstrofe surge também
Reparto
Um pouco de chocolate perdido
Nos meus bolsos
As crianças riem
Mas é tão pouco… a fome é tanta
Ai dançamos e contamos parábolas
Moralizantes
Eu, as estrelas, as crianças
Jesus chega também…
Traz um pouco de pão
Todos ficam contentes…

E eu olhando para o fogo
E vendo toda esta imagem
Faço força com o ar de meus pulmões
Com o calor do meu corpo
Com toda a minha energia
Para que isto não seja só uma mera imagem

Como esperado, esforço sem resultados
Então no meio do sorriso dos pequeninos
A lágrima mais pesada do meu ser
Brota no meu olho
Transborda sentimento de facas afiadas
Jesus olha-me e diz:
“O que importa é que imaginas-te tudo isto”

A chuva traz-nos lembranças, premonições
Falta de saliva, falta de olhar…

3 comentários:

border disse...

gosto!

Anónimo disse...

mmm... buenno. *

Anónimo disse...

contas histórias sob a forma de poema-prosa onde, o que li, prendeu-me até ao final, adorei.