segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Meu eu

Eu sou tudo
O tempo não existe
O mundo não existe
Eu sou o mundo
O tempo é expressão

Somos pequenas luzes
Em uma cidade
Somos loucura e emoção
Energia e divagação
Cigarros apagados, lambidos por cinza
Somos som e dedos moscardos
A realidade é nosso paladar uníssono
A realidade é identidade, individual…
A atracção só eu a sugo

Concebemos a nossa mente
Somos lágrima fechada
E sabor demente
A alegria é fantasma viva!

Eu sou tudo
Eu comigo, repetição
Eu contigo, conclusão
Somos pontos finais de iluminação
O poder está em minhas mãos
Assim salpico a doçura do meu ser
Faço dos lábios, sorrisos
De veracidade e harmonia
Sou tudo o que planeio
Sou tudo o que quero
A força brota do meu ventre
Torna-me mulher, pessoa, animal, contente
Sou olhos de olhar, ver, sentir
Aceitar, amar…

Amo cada pedaço de terra
Cada pedaço que não seja nada
Para que possa ser tudo
Tu és tudo o que não sou

Esta respiração subtrai a malícia e o medo
A hipocrisia vai cessando
A raiva estagna-se em cemitérios
O sofrimento é participativo
Mas é somente o caminho…
Destes lábios de sorriso

Sou mundo

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

para voçês

Pessoas, Sentidos…
Alegrias, Tristeza…
Saudade…
As pessoas passam por nossas vidas
Mudam nosso respirar
Aí somos diferentes
Por mais que o nosso egocentrismo
Nos torne seres unos
Elas vibram-nos
Com amizade
Amor ou simplesmente
Com olhares de sentimento

Mudam nossas mentes e costumes
O ego é condicionado
Por mais que nos amemos a nós próprios
Quem nos rodeia
Dá-nos aquele calor
Que não temos sozinhos à noite

Desapontam-nos…
Amam-nos…
Um antagonismo permanente
Que no fundo nos apraz
Sozinhos podemos ser muito
Mas o frio permanece
São estes seres de alma
Que nos rodeiam
Que nos florescem alguma vida
Alguma esperança
Depois chega a hora de nos afastarmos
Queremos encontrar o resto de nós
Deixa-mos abraços e conversas para traz
Somente protegidos pela lembrança
Que a saudade nos advoga

No fundo pouco somos sem vós
Precisamos de pessoas
De sentimentos alheios
Se não o tudo é o nada

Não vou embora
Mas afasto-me
Chega uma altura, que não se foge mais
Assim a saudade atravessa-nos…
Cada vez mais
As lágrimas escorrem vagarosamente
Como o tecelão tecendo sua manta
Eu sou tudo
Eu comigo, sempre
Mas gosto-vos eternamente
Se sou o que sou
Parte muito de vós
Obrigado por esta saudade
Dorida mas necessária
Não vos quero esquecer jamais
Vocês são os dedos dos meus pés
Os dedos das minhas mãos
Os dedos dos meus sentimentos
Do pouco calor em mim

A saudade não se explica
Por mais que queiramos
A saudade é
Lambidelas de ternura e de queimaduras
É um masoquismo doce…

cuspo


Às vezes parece que ando sem andar realmente
Às vezes parece que as coisas me falham as mãos
As decisões são enganos
Os enganos são náuseas de incerteza
Às vezes parece que deambulo sobre um fio esticado
Prestes a cair
Prestes a morrer quem sabe
Vejo a fome
A guerra
Tortura…
O não respeito
Esqueletos, calçadas de ossos humanos…
Moscas em corpos fracos
A não misericórdia
O amor endinheirado
A saliva do poder
Almofadas de cabelo
Dentaduras em massa…
Corpos nus, mais do que magros
Esqueletos humanos
De olhos sem vida

Expiraram-lhes a alma
Sugaram-lhes a vida
Tornaram-lhes robôs do sofrimento
Tornaram-lhes o resultado da equação da nossa maldade
Do desumano que somos
Do nosso egoísmo, do nosso egotismo…

Agora só queremos festas, licor, calçado e invejas…
Agora só queremos descapotáveis e verniz…
Jogos de bola e casamentos temporários
Filhos “geração mp3”
Jogos de vídeo, vivendas, casinos e “falatar” e “falatar”
O amor pouco era antes, agora cada vez mais cessa
Cada vez mais nos detestamos e não o admitimos
Agora somos divórcio e sensacionalismo americano
A bondade escassa, o amor foge com medo do ser humano
A amizade já é monopólio
Continuamos conscientes do nosso inconsciente
Continuamos a dançar e a comer com sorrisos
Enganamo-nos e mudamos de canal
Quando choros e fome estão na tv
É mais fácil mudar de canal ao invés de darmos uma mão solidária
Fugimos de um dever
No fundo fugimos de nós mesmos
Fugimos com medo do inferno
Sabendo que nele já estamos inerentes
Devassos somos ao fugir
Engolimos as lágrimas preguiçosas da verdade
Continuam os sorrisos
Continuam as calçadas humanas
Continua os robôs do sofrimento
Abandonados por nós
E mais tarde a esperança desvanece
E já nem em eles confiam, já nem em eles amam
O nazismo existiu, carniceiro de almas e gentes inocentes
Mas não acabou…
Outros tipos de “nazismos” prevalecem
Às vezes sozinha parece que oiço os gritos e choros angustiantes…
Aí todo o meu corpo gela e a minha fé escasseia

Somos somente o cuspo do nojo de nós mesmos…

quase fim

Perdida me encontro
A solidão regressa
De peso bruto
O sonho mais nada é
Se não
Ilusão destes músculos cadavéricos

A sede voltou a florir
Uma sede que sufoca
Os meus rios e meus mares
Estão negros como noite sem luar
Sem estrelas…

Novamente sozinha
Abandonada sou
Os olhos eliminam-se
Casa vez mais
O sono é meu único estandarte

Para esboçar risos
O mundo teria
De se conceber novamente
Com novos seres e sentimentos
O meu único entendimento
A nunca ninguém interessou
A sorte a mim pouco me saliva
Meus desejos medíocres são…
E mesmo assim
Não se conseguem…
A sorte não me deixa
Os meus pulsos
Há muito estão cortados
Abraçam-se com o seu sangue
São cascata perdida
Escaldante
Em panela ao lume
Fornecendo-me das mortes mais lentas
Deste modo
Meus olhos são água
Os meus sonhos desvaneceram-se no esgoto
Sobrando o cálice que por mais anseio:
Morte

Só não entendo porque ainda não a bebi…