sexta-feira, 11 de julho de 2008

Silêncio meu

Meu silêncio meu
Tanto te desejo
Tanto te pretendo
Tanto te fujo

É conforme o quotidiano
Às vezes quero e posso
Te ter em meu leito
Outras, quero-te mas não te sinto
Ou não é conveniente te sentir

Meu silêncio meu
Mas afinal quem és?
O que me és?
Espera, aguarda…
Não respondas
Pois no fundo sei o que me representas
E o que canta teu fado,meu.

És aquele que se liberta em mim
Quando não quero Mundo
Quando não quero pessoas e sentidos…
És aquele que cheira o bater da minha pulsação
E vê o que grito, vê o que careço do outro lado
Do outro lado do mundo
Que nem todos têm inerente em si

Sabes a dor
Paz, tranquilidade, serenidade, tristeza
Esperança, melâncolia,
Sonhos para além…
Das nossas mãos e do noss sangue

És o suco negro e doirado do espírito
A anormalidade do social
Da “pessoa” em si…
És a lágrima escorrida,
Só porque é necessária
Só porque é estranha.

Chamo-te silêncio
Pois és o nulo, o nada
O tudo do que é realmente especial
Em mim…
És a folha caida num ribeiro
Que desliza ao sabor
Das leves e fortes correntes do sonho

Foges da terra em direcção ao mar
Foges dos corpos suados
Do “cidadão”, da “fábrica”…
És andorinha, nave, maré…

Meu silêncio meu
Vem
Aparece sempre que quiseres
Pois és o brinde que os deuses
Me concederam à nascença
E em quem me tornaram
Olho brilhante
Negro…
Em corpo de lágrima ensaguentada

Foram estes que me deram deste “silêncio”
E me tornaram no mistério
Do Não mundo…