terça-feira, 18 de setembro de 2007

corpo

Um corpo nu
Dois corpos nus
O teu e o meu
O suor já estagnou
Tu já estas satisfeito
E eu sinto-me só corpo
Cheira a sexo… sexo unicamente
A cama é grande
O sémen está espalhado
Em meus neurónios
Mete-me nojo
Sou um corpo sem alma
Estou absorta
Apática
Olho, sem olhar realmente,
Para a televisão desligada
Escura…
Um olhar vazio
As lágrimas escorrem-me
Em meu rosto
Em mil anos de tempo
Sinto-as rasgarem-me
A pele
O corpo imundo

Eu quis
Tu deste-me
Mas sinto-me corpo
Mais nada
Deste-me festas
Carinhos… mas sem carinho algum
Tens-me respeito
Não o posso negar
Eu quis
Só por isso o fizemos
Tu também me querias
Mas foi horrendo
Devasso
Quando acabou
Ficas-te saciado
E a tua ignorância disfarçada
Assassinou-me
Sou objecto
Abraças-me…
Mas um abraço frio
As tuas mãos
Encaixam no esqueleto que sou
É um toque sem amor algum
Sexo somente
Podridão
Aqui deitada permaneço
No lixo
Sentindo as lágrimas queimando-me
O meu olhar é insignificância
Um olhar de corpo apenas
Não sou espírito, não o possuo
Sou do mais usável possível
Repugna-me, o meu sangue gela
Das piores dores da minha vida
Não dá para disfarçar que gostei
Nem aguento mais esta cama
Levanto-me
Tu dormes
Dos mais profundos sonos
Nem sentes a minha saída
Pego no preservativo usado
Deito-o ao lixo
Vomito…
A sanita fica imersa, e nem ouves
Limpo-a
Visto-me
Choro, baixinho para não perceberes
Peça a peça
Cobro este nu
Corpo apenas
Choro
Choro
Enoja-me este corpo e o teu
Não foste bruto, nada disso
Mas não houve entrega de almas
Sexo apenas
Com alguns carinhos
Mas impessoais
Olho-te
Não te amo
Não me amas
Passamos tempo junto apenas
Com pouco ou nenhum sexo
És frio
De gelo, mesmo
Não te queria amar
Mas queria que me gostasses
Odeio-te
Amigo respeitador
Não desminto

Vou embora
Nem me despeço de ti
Vais estranhar
Mas não quero esse corpo
Fere-me o pensamento

Chego a casa
Olho-me ao espelho
Choro…
Uma dor de falta de amor
Olho-me, enjoa-me o corpo
Penso em tomar banho
Para me purificar um pouco
Mas não o faço
Castigo-me
Penso: fica imunda
Que és corpo apenas

Desculpem-me
Ser o único ser humano que não gosta de sexo
Apenas
Desculpem-me sentir-me violada
Sem mesmo o ter sido

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